Pressionado por ética no
jornalismo, O Abutre apresenta um protagonista bem mau caráter e uma trama um
pouco cansativa, mas o choque ao final torna o filme bastante válido. Abutre: Ave de rapina, voraz, infecta, e
pesada, de asas compridas, que vive de restos de animais mortos ou de carniça.
O significado de abutre se encaixa perfeitamente naquilo que Jake Gyllhenhaal
interpreta, o ator deu vida a Louis Bloom, um ser humano que deseja subir
passando por cima dos outros e encontra no jornalismo a forma simétrica para
crescer.
Jake Gyllhenhaal é o destaque do chocante e real O Abutre. (Divulgação) |
Necessitando de emprego e
buscando se firmar em alguma coisa, Louis Bloom começa com uma simples
filmadora e vai aprendendo com os erros a ingressar no grotesco e cruel mundo
das reportagens criminais, o que aqui chamamos de jornalismo policial. É nessas
várias gravações que o protagonista do longa se encontra e começa um negócio
que deve lhe elevar de patamar, como também pode levá-lo a desgraça junto com
quem o mesmo se encarrega de colocar no jogo.
Para conseguir realizar
suas filmagens com perfeição, Louis sai em busca de um assistente, o
interessante é que o próprio personagem repete os mesmos gestos que os outros
praticaram contra ele, chantagistas, vigaristas e mercadores clandestinos. De
qualquer forma, ele encontra em Rick Carey (Riz Ahmed) o parceiro ideal, um cara
que também precisa de dinheiro e topa qualquer desafio para sair da pobreza.
Juntos, os dois começam a dar início ao arriscado mundo do jornalismo
sensacionalista.
Após algumas falhas, a dupla
enfim consegue filmar, por incrível que pareça, “acidentes legais” e logo fazem
negócio com uma produtora que provavelmente não se lembra do código de ética do
jornalismo, Nina Romina é interpretada por Rene Russo (a mesma que atuou como a
mãe do Thor naqueles dois filmes meia boca). É impressionante como a dupla
(Nina e Louis) extrapolam os limites da profissão e pouco se importam com o
choque que aquelas imagens vão causar em todo o estado, a briga é sempre pela
audiência... Coisa que vemos bastante pelos demais países, inclusive o nosso
Brasil.
A parceria de Louis com
Nina se torna meio que uma dependência, ele chantageia a produtora que tem que
aceitar por conta da busca incessante por números, é dessa forma que o nosso “heroi”
cresce trabalhando no que mais sabe fazer, ou seja, crimes. Obcecado por
reconhecimento e poder, Louis começa a alterar as cenas dos crimes, mexendo um
corpo para lá, invadindo uma mansão que acabara de viver brutais assassinatos e
até mesmo gerando um embate entre polícia e criminosos. Louis se torna o
elemento mais perigoso do filme, desafiando o trânsito em alta velocidade,
praticamente tirando a vida do seu assistente rebelde (sim, ele queria um
aumento), vencendo a batalha contra o sistema policial, contra o tráfico e
abrindo sua própria empresa de reportagem, isso mesmo, o filme se encerra de
maneira bem insatisfatória para quem gosta de finais felizes. Na verdade o
final foi bem realista e a briga por audiência tanto vitima os envolvidos,
quanto os telespectadores que são consumidos por produções que optam pelo
sangue ao invés de conteúdo.
Completamente diferente do
que já tinha feito, Gyllhenhaal apresenta um personagem pouco carismático,
bastante insuportável em muitos momentos, mas eu como telespectador entendi
completamente aquilo que o filme quer passar por meio de um protagonista tão
mau e frio. Além de Gyllhenhaal, quem se destacou no longa foi o diretor Dan
Gilroy, que preparou um filme bem crítico e real, propondo aquilo que a
Academia mais gosta, mas nem mesmo toda a realidade valorizou bom O Abutre, o filme nem sequer foi indicado
ao Oscar. Apesar disso, Gyllhenhaal esteve impecável, perdeu peso, se
transformou num lunático que passa por cima e qualquer um para atingir seu
objetivo, a cena clássica é a que Louis altera o motor da van do seu rival de
reportagem, fazendo com que o personagem de Eric Lange sofresse um acidente bem
chocante.
Um pouco do absurdo que o jornalismo pode proporcionar. (Sala Reclusa) |
No geral, temos um ótimo
filme, algo que gera um bom debate e nos faz novamente repensar até que ponto o
jornalismo pode ir, a ética tem que ser priorizada, as pessoas tem que ser
priorizadas.
Até a próxima!
Nota:
8,0.
PS: Nota oito apenas por
conta de quão cansativo o filme pode ser, no mais, uma excelente pedida.