quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Interestelar - Resenha

Saudações fieis leitores! Após um longo sumiço, aqui estou eu para fazer a resenha de Interestelar, o mais novo filme do Christopher Nolan - e que Deus me ajude a fazer isso. Então,  sem mais delongas, aqui vamos nós:


E, antes que eu me esqueça: Sim, esse texto pode conter spoilers - ou não. Afinal, essas coisas são relativas.






De um modo geral - e absurdamente simplista de minha parte -, a ficção científica possuí dois pilares: no primeiro, vemos um exercício de imaginação do autor ou diretor que tenta  dar sua visão de como será o futuro do homem. Neste caso, o criador se valerá de um vasto conhecimento técnico/científico para poder dar uma base crível para seu futuro. No outro, também teremos uma retratação do futuro, mas, ao contrário do primeiro, seu foco estará na condição humana dentro desse futuro.

Interestelar, o novo filme de Christopher Nolan, é um exemplo disso. Para aqueles que não estão familiarizados com a história do filme, aqui vai uma breve sinopse: Em algum ponto de um futuro distante, uma estranha praga começa a atacar as plantações do mundo, o que torna a vida na Terra cada vez mais complicada. Através de uma fortuita série de eventos, o piloto aposentado/fazendeiro Cooper (Matthew McConaughey) termina sendo levado até as instalações da Nasa, onde é convocado a pilotar uma nave que singrara através de galáxias para encontrar um novo planeta que possa servir de lar para a humanidade. Após uma dolorosa separação de sua família, Cooper parte com um grupo de cientista, em busca de um novo planeta para a raça humana. Deste ponto em diante, o filme se divide em dois focos: de um lado, a viagem de Cooper, do outro, a história do que se passa na Terra - e, antes que perguntem: sim, as histórias voltam a se encontrar no fim.

Como na maioria das produções de Christopher Nolan, temos aqui um elenco muito bom e competente, ainda que alguns atores, como John Lithgow pareçam um pouco deslocados demais no filme. Todavia, aqui há mais méritos do que deméritos. No setor de música, contamos com uma bela trilha sonora composta pelo mestre Hans Zimmer, parceiro frequente de Nolan em suas empreitadas. No setor de efeitos especiais, temos um trabalho maravilhoso que, ao mesmo tempo que presta uma certa homenagem à 2001 - Uma Odisseia no Espaço, consegue sair da sombra do filme de Kubrick e criar uma imagem própria.

Os problemas de Interestelar começam realmente à nível de roteiro. Ainda que nos apresente uma história interessante, o roteiro apresenta certas falhas.
 
Em certos momentos do filme, por exemplo, não conseguimos sentir a tensão que certos pontos deveriam ter. Como exemplo disso, temos o caso da Terra. Sabemos, no desenrolar da trama, que a Terra se prepara para seus dias finais e que, em consequência disso, a própria raça humana se encontra à beira da extinção. Essa é a premissa principal do filme, porém, em nenhum momento o filme se preocupa em mostra o quão ruim está a situação do planeta. Vemos algumas anomalias atmosféricas, nos é explicado que alguma praga está destruindo as plantações de todo o planeta, mas isso não chega a ser trabalhado de modo a realmente criar um impacto no espectador. Não sentimos a mínima apreensão que seja com esses eventos. 

Outra grande falha de Interestelar é que o filme apresenta uma grande quantidade de informações e que, algumas delas, nem sequer são bem trabalhadas. Isso se deve, talvez, à escolha do diretor em dividir o filme em dois focos narrativos - ora apresentando a jornada pelo espaço, ora mostrando a terra - o que, apesar de ser muito interessante, termina gerando alguns pequenos problemas de ordem narrativa, uma vez que a falta de foco termina diluindo um pouco a narrativa. Como exemplo disso,  temos a relação de Cooper com sua família, um ponto central do filme. Aqui, porém, a situação foi melhor resolvida - e muito disso se deve à atuação de McConaughey. Porém, temos uma visão apenas do lado de Cooper, faltando talvez uma complementação de sua família, que se viu repentinamente separa do pai e que teve de sobreviver em um mundo "apocalíptico". A partida súbita do pai teria forçado seus filhos a assumirem certas responsabilidades na vida, a realizarem certas escolhas, à sofrerem por um período de tempo indeterminado, isso tudo teria enriquecido em muito a experiência do filme. Teria, é claro, aumentado demais sua duração, mas teria tornado o filme muito mais completo.

Encerrando essa sequência de erros, temos a quantidade absurda de clichés utilizada. Entendo que, após tantos anos de cinema e literatura com temática de ficcção científica, alguns temas terminam se tornando repetitivos, porém, nada justifica o fato de que a grande maioria de clichés do filme serem usados sem o mínimo de cuidado ou preparo. Um exemplo gritante disso é o personagem de Matt Damon, o Dr.Mann, um dos primeiros a fazer a viagem intergalática. É mais do que óbvio que ele será um vilão no filme - sério, o nome do cara é Mann, que é o mesmo que homem em alemão, e alguém ainda fica surpreso por ele ser um vilão? Digo, isso só perde em obviedade pro Vilain de Mercenários 2. - e, ainda assim, Nolan passa quase 25 minutos tentando fazer uma reviravolta que não vai surpreender ninguém. 

Em suma, Interestelar é um bom filme, com grandes atores, boa trilha sonora, e excelentes efeitos especiais. A experiência geral, no entanto, pode variar de acordo com o espectador. Aqueles que não tiverem um grande conhecimento de ficção científica terão uma diversão mais do que garantida. Para aqueles que um conhecimento maior da área, no entanto, o filme pode terminar como sendo apenas mais do mesmo.



Nota - 5,0