segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

O Abutre – Resenha Crítica

Pressionado por ética no jornalismo, O Abutre apresenta um protagonista bem mau caráter e uma trama um pouco cansativa, mas o choque ao final torna o filme bastante válido. Abutre: Ave de rapina, voraz, infecta, e pesada, de asas compridas, que vive de restos de animais mortos ou de carniça. O significado de abutre se encaixa perfeitamente naquilo que Jake Gyllhenhaal interpreta, o ator deu vida a Louis Bloom, um ser humano que deseja subir passando por cima dos outros e encontra no jornalismo a forma simétrica para crescer.
Jake Gyllhenhaal é o destaque do chocante e real O Abutre. (Divulgação)
Necessitando de emprego e buscando se firmar em alguma coisa, Louis Bloom começa com uma simples filmadora e vai aprendendo com os erros a ingressar no grotesco e cruel mundo das reportagens criminais, o que aqui chamamos de jornalismo policial. É nessas várias gravações que o protagonista do longa se encontra e começa um negócio que deve lhe elevar de patamar, como também pode levá-lo a desgraça junto com quem o mesmo se encarrega de colocar no jogo.

Para conseguir realizar suas filmagens com perfeição, Louis sai em busca de um assistente, o interessante é que o próprio personagem repete os mesmos gestos que os outros praticaram contra ele, chantagistas, vigaristas e mercadores clandestinos. De qualquer forma, ele encontra em Rick Carey (Riz Ahmed) o parceiro ideal, um cara que também precisa de dinheiro e topa qualquer desafio para sair da pobreza. Juntos, os dois começam a dar início ao arriscado mundo do jornalismo sensacionalista.

Após algumas falhas, a dupla enfim consegue filmar, por incrível que pareça, “acidentes legais” e logo fazem negócio com uma produtora que provavelmente não se lembra do código de ética do jornalismo, Nina Romina é interpretada por Rene Russo (a mesma que atuou como a mãe do Thor naqueles dois filmes meia boca). É impressionante como a dupla (Nina e Louis) extrapolam os limites da profissão e pouco se importam com o choque que aquelas imagens vão causar em todo o estado, a briga é sempre pela audiência... Coisa que vemos bastante pelos demais países, inclusive o nosso Brasil.

A parceria de Louis com Nina se torna meio que uma dependência, ele chantageia a produtora que tem que aceitar por conta da busca incessante por números, é dessa forma que o nosso “heroi” cresce trabalhando no que mais sabe fazer, ou seja, crimes. Obcecado por reconhecimento e poder, Louis começa a alterar as cenas dos crimes, mexendo um corpo para lá, invadindo uma mansão que acabara de viver brutais assassinatos e até mesmo gerando um embate entre polícia e criminosos. Louis se torna o elemento mais perigoso do filme, desafiando o trânsito em alta velocidade, praticamente tirando a vida do seu assistente rebelde (sim, ele queria um aumento), vencendo a batalha contra o sistema policial, contra o tráfico e abrindo sua própria empresa de reportagem, isso mesmo, o filme se encerra de maneira bem insatisfatória para quem gosta de finais felizes. Na verdade o final foi bem realista e a briga por audiência tanto vitima os envolvidos, quanto os telespectadores que são consumidos por produções que optam pelo sangue ao invés de conteúdo.

Completamente diferente do que já tinha feito, Gyllhenhaal apresenta um personagem pouco carismático, bastante insuportável em muitos momentos, mas eu como telespectador entendi completamente aquilo que o filme quer passar por meio de um protagonista tão mau e frio. Além de Gyllhenhaal, quem se destacou no longa foi o diretor Dan Gilroy, que preparou um filme bem crítico e real, propondo aquilo que a Academia mais gosta, mas nem mesmo toda a realidade valorizou  bom O Abutre, o filme nem sequer foi indicado ao Oscar. Apesar disso, Gyllhenhaal esteve impecável, perdeu peso, se transformou num lunático que passa por cima e qualquer um para atingir seu objetivo, a cena clássica é a que Louis altera o motor da van do seu rival de reportagem, fazendo com que o personagem de Eric Lange sofresse um acidente bem chocante.
Um pouco do absurdo que o jornalismo pode proporcionar. (Sala Reclusa)

No geral, temos um ótimo filme, algo que gera um bom debate e nos faz novamente repensar até que ponto o jornalismo pode ir, a ética tem que ser priorizada, as pessoas tem que ser priorizadas.
Até a próxima!

Nota: 8,0.  

PS: Nota oito apenas por conta de quão cansativo o filme pode ser, no mais, uma excelente pedida.