quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Especial de Dia das Bruxas 2015 - Parte I

Antes de iniciarmos os trabalhos, eis aqui  uma pequena explanação sobre o que será esta série:

Levando em conta que  ainda nos encontramos em pleno mês das Bruxas, nada melhor do que aproveitá-lo à contendo.

 Este ano, porém, vamos fazer algo ligeiramente diferente do que nós anos anteriores. Ao invés de falar de filmes, vamos nos concentrar em livros e, mais especificamente, em livros nacionais cujo foco seja o terror/horror. A ideia é que a postagem tenha algo entre duas ou três partes, mas, devido a uma grande série de fatores, vamos deixar essa meta em aberto.

Assim, sem mais delongas, vamos  ao que realmente interessa.







Parte I - Revisitando o folclore

Seja por causa de trabalhos da escola durante o ensino fundamental, seja por causa do Sítio do Pica-Pau Amarelo - os livros ou as séries de TV - todos nós, brasileiros, temos, em maior ou menor grau, uma certa familiarização com os elementos do nosso folclore. Com pouco esforço, conseguimos até nos lembrar de alguns personagens ilustres, como é o caso do Saci, da Cuca ou da Mula-Sem-Cabeça.

O que nós não conseguimos nos lembrar - ou que temos uma certa dificuldade em aceitar num primeiro momento - é do forte caráter horrorífico inerente à tais criaturas. Muito disso se deve, talvez, ao fato anteriormente citado de que nosso primeiro contato com tais criaturas se dá num período muito tenro de nossas vidas, de modo que muito da sinistra carga desses mitos e lendas é subtraída no intuito de poupar as mentes infantis. Outro fator que pode ter contribuído em muito nesse sentido é a própria "infantilização" presente na obra de Lobato que, ainda que tenha expandido o alcance de tais personagens, também retirou muito a força dos mesmos.

No entanto, o objetivo deste post não é debater essa questão. Pelo contrário, o objetivo do mesmo é apresentar o outro lado da moeda.

Mais precisamente, vamos falar sobre todo o medo e horror que nossos mitos e lendas carregam e, para isso, vamos falar de dois livros: Contos do Sul e Sete Monstros Brasileiros



























Contos do Sul é o livro da escritora gaúcha Simone Saueressig, ao passo que Sete Monstros Brasileiros é o livro do paraibano Bráulio Tavares.  Ambos os livros tem em comum o fato de se utilizarem as criaturas de nosso folclore como base para seus contos, ainda que o seu escopo os diferencie. 

No primeiro livro, somos apresentados a mitos e lendas mais comuns ao Sul do país - com a exceção do Diabo  - ou nas formas como elas são apresentadas naquela região, ao passo que, no segundo, teremos uma seleção mais ampla de lendas de todo o Brasil. Outra grande diferença está na questão da forma como os mitos são tratos - sendo o primeiro mais tradicional, ao passo que o segundo, opta por fazer significativas modificações e ou adaptações.

Seja como for, ambos os livros são uma mostra perfeita do potencial não aproveitado de nosso folclore. Contos como O Saci e Bradador, para citar apenas dois, são obras-primas do gênero terror, não devendo em nada aos grandes medalhões do gênero - sejam autores, sejam criaturas. Em seus contos, ambos os autores conseguem dar a verdadeira dimensão horrorífica de nosso folclore. De fato, nunca antes nossas criaturas assumiram um aspecto tão terrível e macabro, e o fato de vê-los inseridos em cenários modernos se mostra um grande acerto de ambos os livros. Pois, ao mesmo tempo que aproxima o leitor da história, apresentando cenários de "fácil" reconhecimento, esse fator concentra o foco da estranheza - ou do terror, se assim preferirem - sobre as criaturas em si, impedindo que o leitor se perca em detalhes mais triviais.  Outro grande ponto dessa abordagem está em nos apresentar todo um leque de possibilidades para o uso de nossos mitos - uso esse que, durante muito tempo, permaneceu ignorado.
  
Outro ponto interessante dos livros é o modo como o processo de descoberta de cada criatura faz parte do "jogo" de cada história, ao mesmo tempo que impede comentários mais aprofundados sob o risco de entregar tudo. Essa característica  - mais forte em Contos do Sul do que em 7 Monstros - ao mesmo tempo em que atiça a curiosidade do leitor, também ajuda na criação do clima das histórias - algo incrível em ambos os livros - por meio das sutis sugestões que vão sendo lançadas no decorrer da narrativa, e que vão construindo e conduzindo o suspense até o seu desfecho.

No mais, resta apenas louvar o talento e a ousadia de ambos os autores por se aventurarem em um terreno tão pouco explorado - e, ironicamente, tão rico - e por nós entregarem histórias tão prazerosas de se ler e, porque não, de se assustar.

 

Contos do Sul, de Simone Saueressig, tem 96 páginas e pode ser adquirido diretamente em seu site.

7 Monstros Brasileiros, de Bráulio Tavares, Editora Casa da Palavra, tem 104 páginas e pode ser encontrado em várias livrarias com preços entre R$ 27,90 a R$ 34,90