sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Star Wars Episódio VII: O Despertar da Força – Resenha Crítica

Intenso, eletrizante, fantástico e, é claro, muito nostálgico! O filme que marca o início da mais nova trilogia do universo galáctico nos traz características que consagraram a clássica epopeia e empolga do início ao fim. O filme que aposta na mesmice, foi nisso que J.J. Abrams se apoiou para conseguir fazer com que a sua contribuição em Star Wars rendesse o esperado ou até mesmo superasse as expectativas. Temos um novo velho problema familiar envolvendo os Skywalkers, temos um líder sombrio, uma traição e aquilo que muitos estavam aguardando, o retorno dos personagens clássicos, aqueles que acabaram deixados de lado pela saga do início dos anos 2000.
O Despertar da Força une tradição, inovação e apresenta personagens bem mais carismáticos que Hayden Christensen. (Divulgação)
Uma volta aos anos 1970, lançado no final da década, George Lucas prometia revolucionar a história do cinema com uma ideia nunca antes vista, tudo bem que muitos comparam ou até discutem uma certa rivalidade com Star Trek. Porém, imaginando cada filme com sua característica própria, Star Wars foi perfeito, um filme que misturava vário temas e fazia com que o espectador se envolvesse e quisesse mais. Foi através de personagens marcantes que Lucas conseguiu conquistar o público, foi graças a Luke, Han, Leia, Obi-Wan e Darth Vader (Anakin) que o cineasta conseguiu relançar o filme com uma nova roupagem no início dos anos 2000, narrando a vida de Anakin da infância até o auge de sua transformação para o lado sombrio.

Até então existiam duas trilogias, a de grande sucesso dos anos 1970 e 1980 e a do início dos anos 2000, aqui vos escreve um adepto da saga clássica e um crítico assíduo da trilogia mais recente. Por um lado, George Lucas conseguiu passar um universo fantástico e uma trama intrigante e que pecou demais na escolha do elenco do início da história, apesar disso, era um risco que o mesmo corria e tinha que arriscar, acertou com Ewan McGregor, errou com Hayden Christensen. O tempo passou, George Lucas virou um mero colaborador, a Disney agora está a frente de Star Wars e J.J. Abrams assumiu o desafio de lançar o Episódio VII, os riscos são ainda maiores, ele tem a missão dificílima de conseguir criar uma nova história após a queda do Império e dar sequência com novos personagens, com uma nova roupagem e detalhes que resgatam os tempos idos... Ele conseguiu!

Retornando ao que destaco como “mesmice”, o filme apresenta uma linha bem semelhante a “Uma Nova Esperança”, com alguns pontos que o diferencia e que empolga ainda mais, primeiro, existe uma garota que está destinada a algo grandioso, isso está claro, a personalidade e as atitudes de Rey (Daisy Ridley) dão mostra do que ela causará no universo em um futuro próximo. A novidade passa pelo personagem de John Boyega, o jovem ator britânico é Finn, um Stormtrooper que se rebela contra os resquícios de império e foge dos seus serviços, o interessante é justamente a sintonia da dupla Finn e Rey, personagens duramente criticados ao serem anunciados como protagonistas do projeto.

Quando anunciada a nova trilogia, diziam que o quarteto original, composto por Luke (Mark Hamill) e Leia Skywalker (Carrie Fisher), Han Solo (Harisson Ford) e Chewbacca (Peter Mayhew) fariam apenas uma ponta que daria liga ao novo projeto, mas Abrams adaptou de forma perfeita. O elenco original não só participa, como é parte crucial para o andamento da história, afinal de contas, se queres paz, te preparas para a guerra e a guerra não terminaria apenas com a queda do Lord Sith. A queda do império deixa marcas do caos, os clãs da ordem permanecem em busca de reestabelecer o sistema e nesse cenário surge a Primeira Ordem, liderados pelo mentor, o Supremo Líder Snoke, interpretado por um dos maiores gênios do cinema atual, Andy Serkis, que surge como principal vilão da nova saga, é o resquício do Lado Sombrio da Força.

Para tentar reverter o cenário, Snoke desmantelou todo o projeto Jedi em que Luke liderava, tendo em vista a ascensão de um poderoso guerreiro que adquire os conhecimentos de Luke e já corre para o lado escuro. A inexperiência de Kylo Ren (Adam Driver) e a sua problemática familiar dão sabor ao Despertar da Força, o vilão inspirado em Darth Vader é nada mais nada menos que filho da união entre Han e Leia. Ou seja, os problemas familiares da família Skywalker persistem e afetam todo o universo galáctico, que observam ao longe o início de uma guerra que já havia começado desde quando Anakin ainda era um garoto.

Rey e Finn, herois improváveis, sintonia certeira. (Divulgação)
Desiludido e experiente, Luke sai de cena e vaga sem destino nos moldes do que seu mentor, o mestre Yoda havia feito antes de ensiná-lo a controlar a força. Do outro lado da força, há o novo protagonista, o futuro Jedi, a jovem Rey é carismática e bastante decidida, o que chama atenção na garota é seu rápido conhecimento na força, é bem verdade que sua história ainda é um mistério, mas seu inegável talento surpreende o lado da luz e o lado sombrio. Ela terá muito o que oferecer para o desenrolar dos próximos episódios e em O Despertar da Força, ganhamos um aperitivo do que ainda virá. Repleto de nostalgia, o filme deixa claro que há uma nova esperança e esta se passa na formação de Rey como Jedi, está na cara, a história dela ditará o ritmo da nova trama.

E quem não se emocionou ao assistir pouco mais de duas horas de um Star Wars que resgatou as origens, que sofreu com as inovações tecnológicas e os seus efeitos de facto, foi emocionante do resumo no início do filme, ao final surpreendente e para lá de épico. Foi lindo rever a Millenium Falcon, Han, Leia, Chewbacca e Luke marcados pelo tempo e ainda idealizar um vilão que pertence a família de Darth Vader e que ainda vive um dilema entre a luz e a escuridão, semelhante a história do avô e do tio.

Kylo Ren é o Darth Vader do século XXI, óbvio que sem toda a tradição e pompa de maior vilão da história do cinema, todavia ele tem muito para oferecer e prova isso seguindo o caminho inverso do seu avô, se desprendendo de sua família e assassinando o seu pai a sangue frio, o ataque com o sabre de luz contra Han Solo feriu todos os fãs de Star Wars, como é que se mata o melhor personagem da história do universo? A resposta está com Abrams, Lucas e a Disney, mas tento me apoiar na ideia de que sempre será necessário uma grande perda para que a saga dê liga. Na saga dos anos 1970, Obi-Wan era um personagem bem carismático, mas sua vida foi muito curta e sua morte foi importante para o andamento da revolta da Aliança Rebelde.

Em 2000, três incidentes fatais foram cruciais para a grandiosidade dos fatos que seguiriam, primeiro a morte de Qui-Gon-Jin, ponto principal para o desenvolvimento de Obi-Wan Kenobi, depois o assassinato de Conde Dooku, ponto chave para o surgimento do lado sombrio em Anakin e por fim a queda do jovem padawan de Obi-Wan. A luta entre mestre e aprendiz e o quase óbito do jovem tratou de quase aniquilar o que havia de bom no garoto. As perdas foram necessárias e Han Solo dificilmente morreu em vão, mas que fará muita falta e que jamais assistiremos a saga clássica da mesma maneira, é uma verdade indiscutível.

Como destaques negativos, cito três pontos, primeiramente, como é que Finn e Rey conseguem dominar o básico do sabre de luz se antes era necessário um longo e duro treinamento? Tudo bem que a história da garota é um mistério, mas deveria ser melhor abordado, afinal de contas, ela vence um garoto treinado por Luke e também pelo lado sombrio. O segundo ponto está na história do filme, em muitas cenas parecemos estar assistindo Uma Nova Esperança, é verdade que isso é o que chamamos de efeito nostalgia, porém Abrams se apoiou muito na história clássica, fazendo-nos pensar que a história já esteja bem fechada e que seguirá os rumos da trilogia clássica, “ainda existe luz em Kylo Ren”.

Por fim, destaco um certo receio nos rumos da história, o episódio VII foi muito bom, mas temo pela sequência, será mesmo que um Star Wars teen conseguirá segurar as pontas de uma história tão aclamada? Quais serão os rumos dos personagens clássicos? Antes existia um pai que abandonou tudo pela obsessão por poder, agora o seu neto ou filho de Han e Leia está disposto a passar por cima da antiga Aliança Rebelde. Vale destacar que a Disney vai preparar spin-offs  de Star Wars, ou seja, antes do episódio VIII, teremos histórias paralelas ao momento atual, a ansiedade reinará nas novas aventuras do universo galáctico.
Kylo Ren é um Darth Vader inexperiente, mas deve crescer junto com a nova trilogia. (Divulgação)
Star Wars: O Despertar da Força surpreendeu e superou as expectativas, agora a narrativa se passa por um grupo de adolescentes que vão tentar a sorte na galáxia, trazendo muito da história clássica que ficou vago na trilogia mais recente. Tivemos nostalgia, muita nostalgia, cenas de ação ação com a qualidade da atualidade e a certeza de que o universo de Star Wars é enorme e que há vida para a história mesmo sem Luke, Leia, Han e Chewie. Em sua primeira tentativa com Star Wars, a Disney acertou em cheio, resta saber como ela conseguirá seguir com a trilogia e lidar com a troca de direção, o Episódio VIII estará nas mãos de Rian Johnson (Looper).

Nota: 10+/10