sábado, 24 de maio de 2014

X-Men: Dias de um Futuro Esquecido - Crítica

Saudações, fieis leitores! Retorno até vocês para, mais uma vez, fazer uma crítica de um filme. Desta vez, no entanto, venho até aqui para falar sobre o retorno de uma das franquias cinematográficas mais populares de todos os tempos. Sim, estou falando de X-Men: Dias de um Futuro Esquecido.

No entanto, antes que comecem a ler a crítica, sugiro que leiam esta excelente matéria escrita por Claudio Roberto Basílio no site HQManiacs sobre o arco que inspirou o filme e só depois venham ler a crítica.

Todos prontos? Então lá vamos nós!

Dias de um Futuro Esquecido resgata a franquia dos X-Men. (Cinepop)

Uma das mais lucrativas franquias da Fox, X-Men também foi umas das franquias que mais sofreram nas mãos da mesma. Depois de um desastre chamado X-Men 3: O Confronto Final (X-Men 3:The Last Stand, 2006) e uma monstruosidade conhecida por X-Men Origens: Wolverine (X-Men Origins: Wolverine, 2009) a situação da equipe mutante parecia desesperadora. Eis que surge, em 2011, o excelente Primeira Classe (X-Men: First Class), que conseguiu redimir a série. No entanto, a viagem ao passado acabou gerando uma série de dúvidas - ou aumentou as dúvidas geradas por X-Men 3 e Origens - quanto a cronologia da mesma. No intuito de esclarecer boa parte dessas dúvidas, eis que somos brindados com Dias de um Futuro Esquecido, que talvez seja também a mais audaciosa empreitada cinematográfica do universo mutante.


Baseada no clássico arco de John Byrne e Chris Claremont, Dias de um Futuro Esquecido nos apresenta um futuro distópico onde os Sentinelas governam o  mundo e, como consequência, praticamente todos os mutantes foram ou exterminados ou aprisionados em campos de concentração. No entanto, um pequeno grupo de mutantes, liderados pelo Professor Xavier (Sir Patrick Stewart) e Magneto (Sir Ian McKellen) põem um plano desesperado em ação. Sabendo que tal futuro foi ocasionado pela morte de Bolívar Trask (Peter Dinklage) e a consequente prisão de Mística (Jennifer Lawrence) e o uso de sua habilidade mutante para criar os super sentinelas que se adaptam aos mutantes, o Professor prontamente se prontifica a ter sua mente enviada para o passado pela Kitty Pride (Ellen Page). Porém, a viagem seria arriscada demais e, por isso, Wolverine (Hugh Jackman) se voluntaria para fazê-la. Uma vez no passado, cabe ao canadense encontrar as versões mais novas de Xavier e Magneto (James McAvoy e Michael Fassbender, respectivamente) para que juntos possam impedir Mística.


Uma vez feita a introdução, vamos para a crítica em si:

Dois pontos que pesaram muito contra esse filme foram o fato dele se basear em um dos maiores clássicos dos X-Men e, ao menos por minha parte, de reunir um elenco gigantesco, mas vamos falar mais sobre esses pontos.

Adaptar uma história clássica é algo extremamente complicado por dois motivos: primeiro por que é algo que depende muito da habilidade do roteirista e da competência do diretor. Prova disso são os casos de X-Men 2 (baseada na maravilhosa graphic novel X-Men:Deus Ama, o Homem Mata) e X-Men 3 (fortemente baseada na Saga da Fênix Negra),  sendo o primeiro, sem dúvida, um filme excelente, enquanto que o segundo é uma decepção. Em segundo lugar, mas não tão importante, há uma questão da transposição da lógica da história para a do filme. Como exemplo, cito o presente filme. Lembro que houve muitas reclamações sobre o fato de ser Wolverine, e não a Kitty Pride, a fazer a viagem ao passado, porém, como foi bem explicado pelo próprio roteirista do filme, não seria possível enviar a mente de Kitty para o passado, uma vez que ela nem tinha nascido nos anos 70 - não que o filme dê essa justificativa, mas vamos falar sobre isso depois. Apesar de tudo, o filme consegue adaptar muito bem a história do clássico, fazendo uma releitura que faz jus ao espírito da história em si, e desenvolvendo-a de tal modo que faz uma história envolvente que consegue também ter suas próprias surpresas e desenvolve ideias interessantes.


Quanto ao elenco, isso é um problema tanto para filmes quanto para qualquer outro meio que veicule uma história de grupos. Afinal, quanto maior a quantidade de pessoas envolvida na história, mais trabalho terá o escritor ou diretor para aproveitar seu elenco de personagens de tal modo que nenhum deles termine sendo escanteado. Como prova do que pode acontecer quando isso acontece, temos não só o X-Men 3 como também o filme dos Vingadores, onde o Thor se torna apenas um coadjuvante que por acaso faz parte da equipe. Nesse ponto, o filme tem uma de suas maiores falhas.


O elenco - que une os antigos e novos membros da franquia - faz um trabalho excelente reprisando seus antigos papeis, mas, como não pode deixar de ser, muitos atores terminam por não ter tempo de cena para desenvolver melhor seus personagens, virando assim apenas bucha de canhão - literalmente - ou pontas para agradar os fãs da antiga franquia, enquanto que Wolverine, como sempre, termina sendo o foco da história. De fato, com a exceção do Primeira Classe, todos os filmes dos X-Men são, na verdade, filmes do Wolverine nos quais os X-Men fazem uma ponta. Ao menos, Hugh Jackman é um grande ator que já dominou completamente seu personagem - ao contrário de certos atores que só reprisam eles mesmos como se estivessem presos em "jaulas" de "ferro". No entanto, a grande surpresa do filme se encontra em Evan Peters, o Mercúrio. Talvez um dos mais polêmicos aspectos de todo o filme, Peters é quem mais se sobressai do elenco de coadjuvantes, roubando a cena com seu personagem, mesmo ele sendo o alívio cômico de todo o filme, ou talvez por isso mesmo. E isso nos leva ao próximo ponto.

O clima desse filme também é bem diferente dos demais. Enquanto que na trilogia original era possível sentir a tensão por causa do sentimento anti mutante, e Primeira Classe tem um clima muito mais inocente e descompromissado, DFE é um filme muito mais tenso e seco. O futuro distópico é realmente distópico, e as cenas que se passam nele conseguem ser incrivelmente fortes e pesadas, conseguindo nos fazer lembrar das grandes atrocidades que a humanidade sempre consegue cometer contra o seu próximo. Não espere por piadas ou qualquer tipo de humor nessas sequências, pois não há nada disso. Mesmo no passado, com a rápida presença de Mercúrio - não, o trocadilho não foi intencional - não há muito humor no filme, apenas a tensão que é de se esperar de uma missão de tamanha magnitude que envolve voltar ao passado para salvar o futuro, tensão essa que vai se intensificando a medida em que o filme se aproxima do desfecho.

Uma outra  falha do filme, que graças ao bom trabalho de todos os envolvidos termina por não ser tão gritante quanto em outros filmes, sem dúvida se encontra nas incongruências do roteiro. Por exemplo, algo que me incomodou bastante foi a falta de explicação para o poder da Kitty de enviar as pessoas para o passado. Veja bem, o poder dela é se tornar intangível e, como consequência, poder atravessar paredes, então de onde diabos saiu a capacidade dela de mandar pessoas para o passado? De todos os membros presentes naquele evento, por que logo o Wolverine deveria ser mandado ao passado? É dito que o processo poderia destroçar a mente do envolvido, então, seria lógico pensar que a mente mais forte - a de Xavier - deveria ser a enviada. Mais, se você precisa unir duas pessoas completamente opostas para uma causa em comum, não me parece uma boa ideia mandar o cara mais temperamental da equipe para fazer isso. O que valia e o que ainda vale na linha do tempo criada depois da viagem? Outras incongruências se encontram no contexto histórico da série, em que personagens que não deveriam aparecer aparecem ao mesmo tempo em eras separadas e absurdamente diferentes. São coisas que, como dito acima, quase passam despercebidas por causa do ótimo trabalho de todos, mas que, ainda assim, poderiam ter recebido ao menos uma rápida explicação.

Outra coisa que pode decepcionar um pouco aos fãs é o fato de que falta sincronia à equipe do futuro. Muitas das lutas dos X-Men terminam sendo mais um cada um por si, não conseguindo mostrar que eles são, de fato uma equipe que atua em conjunto há muito tempo - e que foi treinada para isso. No entanto, algo que pode decepcionar tanto quanto isso seria aparição de um certo personagem na cena pós créditos que, apesar de empolgante, termina sendo um pouco broxante. Nesse caso, é preciso levar em conta que o personagem ainda está em sua juventude. O mais estranho no entanto, é que o contexto histórico não é propício para o seu modo de agir - para maiores explicações, veja o filme e deixe sua mensagem nos comentários.

Conflito político e dilema entre passado e presente no novo sucesso de Bryan Singer. (Divulgação)


Em suma, Dias de um Futuro Esquecido tem suas falhas, mas mesmo elas não são o bastante para reduzir o mérito desta grande e ambiciosa empreitada, que amarra muitas pontas soltas e que, no entanto, abre inúmeras possibilidades para a franquia nesses dias de um futuro próximo - essa sim foi intencional. Sem dúvida, um grande filme e um ótimo divertimento.

Nota - 9.8

P.S: Por que diabos a Fox plagiou a Armadura do Destruidor do filme do Thor? Digo, aqueles Super Sentinelas do Futuro são cópias descaradas do Destruidor do primeiro filme do Thor, e tenho dito!