quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Até os Deuses Erram - Resenha

Saudações, fieis leitores! Retornamos até vocês com mais uma postagem sobre cinema, dessa vez, com um ótimo filme do diretor Sidney Lummet e estrelado pelo ilustre Sean Connery. Então, é com um certo orgulho, que trago até vocês a resenha de:




Primeiramente, a algo que eu gostaria de comentar sobre o filme. Até os Deuses Erram (The Offence, 1972) não é um filme para qualquer um. Sua temática, e maneira como ele lida com ela, é bastante pesada, quase opressiva. É um daqueles filmes que podem estragar seu dia se você não estiver no ânimo certo, portanto, se você for uma pessoa sensível ou que gosta de ver os bons e velhos filmes em que o bem sempre triunfa sobre o mal e todos terminam bem, recomendo que não só fuja desse filme como pare de ler este post.  Pois bem, considerem-se devidamente avisados.

Outra pequena consideração: o filme começa pelo final.



Então, somos apresentados a perturbada figura do Oficial Johnson (Sean Connery) que se prepara para prestar depoimento sobre um evento recente em sua carreira. Daí, o filme retorna para seu início, com Johnson investigando o seu caso mais recente - uma série de raptos e estupros de meninas - enquanto é assombrado pelos casos passados  - o que não é pouca coisa. Johnson, um veterano da polícia londrina com quase vinte anos de carreira, já teve que lidar com coisas terríveis - como assassinatos brutais, estupros - e todos esses crimes deixaram uma marca não só na mente, como também na alma do policial. Marca essa tão grande que ele chega a duvidar de si mesmo, como mostrado em uma das cenas mais tensas e pesadas do filme quando Johnson encontra uma das vítimas do pedófilo. 
Por fim, o laço da lei se enrosca no pescoço de Kenneth Baxter (Ian Banner), único suspeito encontra pela polícia.  Uma vez preso, Johnson se torna o responsável por seu interrogatório e é nesse momento que o filme vai entrar em uma espiral cada vez mais tensa e perturbadora, quando o acusador e o acusado se encontram cara a cara e começam a discutir sobre o crime. No entanto, Baxter percebe a dúvida que atormenta Johnson e começa a usar isso contra o policial até que vem o surpreendente - e perturbador - clímax da história em que....



 
....vou parar por aqui antes que venha algum spoiler.

Até os Deuses Erram é um filme brutal.  A maneira como ele é construído, de forma a lembrar um teatro - formato, aliás, no qual esse filme se originou - ajuda e muito a aumentar a tensão, assim como as atuações excelentes de Sir Sean Connery e seu nêmesis, Ian Banner. O interrogatório é um daqueles momentos memoráveis do cinema, esbanjando uma aula de atuação e de diálogos, fantásticos por sinal, que vão desde a maneira como Baxter sente e manipula a dúvida e a fraqueza de Johnson - levando ao gran finale do filme - até o esforço desesperado deste último em se manter no controle da situação e derrubar o oponente ao mesmo tempo. Não só isso, a direção de Lummet é precisa, quase clínica, de modo a conduzir a tensão a pontos insuportáveis e depois ir, lentamente, reduzindo-a enquanto prepara o espectador para uma nova viagem em meio a depravação da alma humana, levando-o não só a discutir e pensar até que ponto chega a perversidade do ser humano, como também na difícil situação dos homens e mulheres que, todos os dias, têm que enfrentá-la e os riscos que eles correm por conta disso, lembrando-nos das famosas palavras de Nietzche:

 "Aquele que combate monstros deve tomar cuidado para que ele mesmo não se torne um. E, se olhar muito tempo para o abismo, o abismo te encara de volta."

  No entanto, é essa mesma direção que termina por deixar o filme muito arrastado e cansativo, o que não ajuda em nada um filme de quase duas horas que se propõe a discutir um tema tão pesado.

Assim sendo, aliado ao fato de que este é um daqueles filmes que vão estragar seu dia - ou sua fé na humanidade -  dou um 8,7 para esse filme.

Nota - 8,7