terça-feira, 18 de março de 2014

12 Anos de Escravidão – Resenha Crítica

Olá, amigos da Sala Reclusa! Esperando algo bem chocante e um filme parado, típico de campeão de Oscar, fui assistir 12 Anos de Escravidão e não que o filme é realmente muito bom! Ele não é chocante, não apela para violência como outros tantos, ele não é parado e sonolento como outros campeões da estatueta e, praticamente foca nas grandes atuações de quase todo o elenco. Lembrando que Steve McQueen foi o primeiro negro a conquistar o prêmio de melhor filme, um tabu que realmente só poderia ser quebrado com uma história tão fascinante e emocionante como os 12 anos em que Solomon Northup foi sequestrado, vendido e submetido aos terríveis trabalhos que os negros eram obrigados a desempenhar.
Melhor filme do Oscar, 12 Anos de Escravidão é um show de
atuações individuais. (Divulgação)


O filme é repleto de flashbacks, porém, a história começa quando Solomon Northup (Chiwetel Ejiofor), sua esposa Anne Northup (Kelsey Scott) e seus dois filhos vivem em perfeita sintonia com o mundo afora, apesar de pertencerem a uma época cruel e ingrata em que brancos escravizavam negros e a sociedade não se chocava com tamanho absurdo. A história começou a acontecer em 1841 e foi escrita no ano de 1853, vale lembrar que contando com o atual sucesso, 12 Anos de Escravidão já ganhou três filmes no cinema, serve para todos nós nos envergonharmos e aprendermos um pouco sobre o quanto mau é o ser humano.

Pois bem, Solomon é contratado para torcar seu violino em um espetáculo, o que ele não esperava é que seria enganado por uma dupla de empresários, que o entregariam para o mercado e o venderiam como escravo. O fato é que muitos negros livres tiveram o mesmo destino que Solomon, o triste é que a maioria deles não conseguiam retornar para sua vida, a história do violinista é uma exceção. Daí, começam o show de um elenco fantástico, começando pelo próprio Chiwetel Ejiofor, o britânico chamou a responsabilidade e sua atuação o fez ser indicado a melhor ator.

Muito premiado, a verdade é que
 o filme premia a quem assiste. (Sala Reclusa)
Confesso que torço muito para que Di Caprio conquiste o Oscar de melhor ator, porém não dá para comparar O Lobo de Wall Street com 12 Anos de Escravidão e o terror psicológico que Chiwetel soube interpretar, ele realmente mereceria, mas eu ainda não assisti ao Clube de Compras Dallas, filme que premiou Matthew McConaughey. Voltando para as belas atuações, eis que chega a minúscula participação de Paul Giamatti, o grande ator interpreta Theophilus Freeman e é o encarregado de vender Solomon, que agora era chamado de Platt. As cenas de Giamatti são realmente cruéis, porque é quando vemos uma mãe sendo separada de seus filhos, mais um ponto para a idiotice do ser humano, Giamatti sai de cena e vende Solomon para outro grande craque na atualidade, Benedict Cumberbatch e seu William Ford, o primeiro dono do violinista sequestrado.

Ford é um homem bom, trata bem e se afeiçoa por seus negros, se tornando um bom “amigo” de Solomon, o problema é que certa amizade do negro com o senhor gera inveja por meio dos capatazes, forçando Ford a se livrar do bom homem, é o fim da excelente participação de Benedict, o já eterno dragão Smaug. É aí que surge o que para mim foi o grande destaque do longa-metragem, Michael Fassbender, o alemão que interpretou o cruel Edwin Epps, sua atuação é muito boa, me fez lembrar um pouco de Ralph Fiennes e sua consagrada atuação em A Lista de Schindler, tenho medo de Amon Göth até hoje.

Na fazenda de Epps, Solomon aprende realmente o que é crueldade, ele conhece Patsey, interpretada com maestria pela vencedora do Oscar de melhor atriz-coadjuvante, Lupita Nyong'o. As cenas mais chocantes e cruéis acontecem com ela, talvez por isso que ela realmente tenha merecido o prêmio. Não entrarei em detalhes do que acontece no engenho, só destaco a magistral atuação de Fassbender, ele se transforma em cada filme e já estou muito ansioso para o novo X-Men, o alemão-irlandês merecia ter conquistado o prêmio de melhor ator coadjuvante, porém, repito: ainda não assisti ao Clube de Comprar Dallas, portanto, não posso avaliar a atuação de Jared Leto.

Por fim, Solomon só confia em duas pessoas brancas que podem tirá-lo daquele inferno, o primeiro é Armsby (Garret Dillahunt), que acaba o enganando e o dedura para Edwin Epps, a esperteza do violinista faz com que o próprio se sobressaia e até mesmo ganhe a confiança do senhor Epps, a cena é épica! Depois, surge Samuel Bass (Brad Pitt), que sempre se mostrou sensibilizado com a situação dos escravos, mas como a maioria dos que tinham esse pensamento na época, tinha medo e permanecia recluso. Contudo, Solomon conta sua história e Bass o apoia e foi crucial para a sua libertação, foram 12 anos de puro sofrimento. A atuação de Pitt foi realmente minúscula, pelo menos nas telas, mas o ator foi um dos produtores do remake, ganhando mais uma vez créditos com a humanidade, se mostrando a favor de minorias como ele sempre faz.

A cena mais emocionante é sem dúvidas, quando ele retorna para sua família, é quando ele já encontra seus filhos crescidos e sua filha casada e com um bebê no colo, sim, ele perdeu o nascimento do neto, que foi batizado com seu nome, é fantástico! A história ficou muito fiel ao livro, a história de Solomon Northup deveria ser mais valorizada, todos deveriam ler ou pelo menos assistir a história do homem que foi vendido como escravo e sobrevivem para contar histórias.

A trilha sonora também ajudou muito McQueen a conquistar o prêmio, as músicas são excelentes, uma mistura de blues e jazz que fazem sucesso até os dias de hoje, as letras que motivavam o trabalho dos escravos e os faziam ”utopizar” dias melhores, a escravidão ainda durou mais tempo e, embora  Northup ter brigado na justiça e ajudado na abolição da escravidão nos Estados Unidos, Edwin Epps jamais foi punido e continuou a ler a bíblia para seus escravos. Dos filmes que concorreram aos Oscar deste ano, 12 Anos de Escravidão é realmente o melhor, uma boa obra atinge seu auge somente dois séculos depois do ocorrido.
Destaques do filme, Fassbender e Ejiofor protagonizam cenas tensas. (Divulgação)
Grande abraço!

Nota: 9,0.