quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Filmes que deveriam ser mais valorizados – Primeira sessão

*Escrito por Felipe Leal.

Uma das surpresas do cinema, entre tantas outras, é a repetição, por vezes inevitável, de temáticas indispensáveis aos questionamentos mais profundos do ser humano. Se na década de 60 Bergman e Antonioni nos presenteavam com duas trilogias, a do Silêncio e a da Incomunicabilidade, respectivamente, é curioso notar que nem sempre essas abordagens são ordenadas, e, por conchaves do destino, como é o caso dos 3 filmes que irei citar, cineastas cuja única semelhança é a genialidade podem realizar filmes que se tocam, como conjuntos matemáticos perfeitos.
Confira, a nova sessão da Sala Reclusa. (Sala Reclusa)

A Prisioneira (La Captive, 2000), da belga Chantal Akerman, foi baseado no livro homônimo de Marcel Proust, de mesmo nome do filme, cuja narrativa nos conta o romance entre Simon e Ariane. Ele, dono de um luxuoso imóvel em Paris, vive com a avó e mantém Ariane praticamente como uma prisioneira, não só das paredes de seu apartamento, como também das suas vontades e desconfianças. Ele a segue, tem crises de ciúme, quer saber onde  vai e com quem anda, contrata uma mulher para que ela não saia sozinha e, num pico de obsessão - uma das cenas mais primorosas do filme -, desabafa, angustiado, que queria saber também o que se passa em sua cabeça o tempo inteiro.

É o amor que desconhece os limites entre a individualidade e a obsessão. É aí que entram os dois filmes que, numa erupção de arrogância da minha parte, coloco lado a lado com A Prisioneira: De Olhos Bem Fechados (Eyes Wide Shut, 1999) e Como Alguém Apaixonado (Like Someone in Love, 2012), respectivamente de Stanley Kubrick e Abbas Kiarostami, entre os sonhos, memórias, perseguições e obsessões captados pelas lentes de suas câmeras, guardam o segredo (e por que também não dizer a maldição?) do conflito que é o amor dividido entre duas pessoas.

Em entrevista concebida, Chantal explica que Sylvie Testud, atriz à quem foi entregue o papel de Ariane, praticamente implorou pela personagem, e que isso foi um sinal de que ela sabia exatamente do que o filme queria tratar. Nos casos das 3 películas supracitadas, foi a mulher a primeira a perceber que em um relacionamento amoroso, por mais cruel que isso possa soar, a luta pelo ''tornar-se um só ser'' é um sonho adolescente desgastante e fadado ao fracasso. O pertencimento de um ao outro é ilusório: não existe ''meu'', e o desejo por um terceiro elemento, quer praticado ou não, sempre permeará o inconsciente de cada indivíduo.

A primazia do intimismo hitchcockiano de Chantal, a atmosfera onírica e sensual de Kubrick e o realismo áspero de Kiarostami não me permitem indicar um só filme, mas os 3 em conjunto, para que se perceba e se extraia o melhor possível desse cinema que preza em ser artístico no sentido mais estrito do termo, nos fazendo refletir e indagar sobre questões surpreendemente cotidianas, com a finalidade mais pura do aperfeiçoamento humano.Uma das surpresas do cinema, entre tantas outras, é a repetição, por vezes inevitável, de temáticas indispensáveis aos questionamentos mais profundos do ser humano. Se na década de 60 Bergman e Antonioni nos presenteavam com duas trilogias, a do Silêncio e a da Incomunicabilidade, respectivamente, é curioso notar que nem sempre essas abordagens são ordenadas, e, por conchaves do destino, como é o caso dos 3 filmes que irei citar, cineastas cuja única semelhança é a genialidade podem realizar filmes que se tocam, como conjuntos matemáticos perfeitos.

Obras-primas que a mídia deixa de lado. (Sala Reclusa)

A primazia do intimismo hitchcockiano de Chantal, a atmosfera onírica e sensual de Kubrick e o realismo áspero de Kiarostami não me permitem indicar um só filme, mas os 3 em conjunto, para que se perceba e se extraia o melhor possível desse cinema que preza em ser artístico no sentido mais estrito do termo, nos fazendo refletir e indagar sobre questões surpreendemente cotidianas, com a finalidade mais pura do aperfeiçoamento humano.